domingo, 20 de dezembro de 2009


Isaac Albéniz, Suite Española, op. 47, Asturias(1886)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009



UMA NOITE


Aquele que me ler, plos séculos, uma noite,
Meu verso a revolver das cinzas ou do sono,
Revendo-lhe o sentido à luz, a saber como
Nos homens do meu tempo a esperança se acoita,

Saiba como a alegria em mim, feita braveza,
Dos gritos através, das revoltas do choro,
Teve o combate altivo e másculo da dor
Pra lhe arrancar o amor, como se arranca a presa.

...
...
...
...

Que uma ternura imensa em teu saber se acoite.
Ele exalta essa força e beleza dos mundos,
Adivinhando a causa e seus elos profundos;
Oh tu, que me hás-de ler, plos séculos, uma noite,

Sabes porque meu verso em ti ressoa e vale?
É porque no teu tempo alguém tirou, ardente,
Do âmago da sã necessidade, o ingente
Soco de mármore da harmonia universal.

Un Soir, de Émile Verhaeren (1855-1916)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009



Talvez seja do tíbio acordar pelo cendal cinza das madrugadas; talvez seja do mar encapelado ou do deserto errante que o margina; ou, quiçá, seja do nada fustigando, impetuoso - ajudado pelo vento vagabundo -, a saudade perene do azul dos dias. Caminho pelas artérias vacilantes e silenciosas do recuo das tardes, e avanço pela sombra dos crepúsculos, até me infundir por entre os lençóis límpidos das noites frias. Frágil e amargo, inverno-me nas pálpebras das memórias de espuma e sombra em que anoiteço. Longínquo - assaz longínquo - dos acendrados crepúsculos violeta e púrpura em que amanhecia e entardecia ao som dos violinos do mui notável e virtuoso padre ruivo.


segunda-feira, 16 de novembro de 2009


QUE LÁBIOS ME BEIJARAM…


Que lábios me beijaram, e aonde, e porquê,
Perdi-o da lembrança, bem como os braços em que outrora
Até de madrugada repousei. Lá fora,
Na chuva, andam fantasmas, hoje: um não sei quê

Bate à minha vidraça e chama e insiste agora.
E surge a saudade, em mim a reviver
Os jovens que olvidei, mas que não torno a ver
A buscar-me em clamor, p’la noite, a velha hora.

Como árvore solitária e nua em pleno inverno
Que as aves não recorda, uma a uma esvaídas,
Mas vê que os ramos tem calados e mortais,

Eu não sei dos amores passados que vieram:
Sei apenas que o verão cantou em mim cantigas
Um breve instante – e não as canta nunca mais.

Edna St. Vincent Millay (1892-1950)
(versão de A. Herculano de Carvalho)

terça-feira, 20 de outubro de 2009


"O mais céptico de todos
é o Tempo,
que com os nãos faz sins
e com o ódio amor
e vice-versa.
E se o rio não remonta à sua nascente,
e se a maçã caída não se eleva
e se reúne ao seu ramo
é porque te falta paciência para crê-lo.”

Paul Valéry, Salmo T., de O cemitério marinho

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Ser livre não é querer fazer o que se quer,
mas querer fazer o que se pode.

Jean-Paul Sartre

domingo, 12 de julho de 2009


Não sou livre
Senão quando me sinto livre.

Paul Valéry