QUE LÁBIOS ME BEIJARAM…
Que lábios me beijaram, e aonde, e porquê,
Perdi-o da lembrança, bem como os braços em que outrora
Até de madrugada repousei. Lá fora,
Na chuva, andam fantasmas, hoje: um não sei quê
Bate à minha vidraça e chama e insiste agora.
E surge a saudade, em mim a reviver
Os jovens que olvidei, mas que não torno a ver
A buscar-me em clamor, p’la noite, a velha hora.
Como árvore solitária e nua em pleno inverno
Que as aves não recorda, uma a uma esvaídas,
Mas vê que os ramos tem calados e mortais,
Eu não sei dos amores passados que vieram:
Sei apenas que o verão cantou em mim cantigas
Um breve instante – e não as canta nunca mais.
Edna St. Vincent Millay (1892-1950)
(versão de A. Herculano de Carvalho)
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